domingo, 17 de fevereiro de 2008

Os 40 anos do Canto ao Canto


Os 40 anos do Canto ao Canto
Por: Gabriel Passos *



Há exatamente 40 anos, 1968 estava se iniciando. Isso porque o brasileiro só começa o ano depois do Carnaval. Em 1968, nem tudo era um mar de rosas: No final daquele ano, o AI-5 seria instituído no país e muitas bocas caladas à força. Passeatas, o início da Tropicália, o fim do televisivo "Jovem Guarda" e a morte abrupta do estudante Edson Luís de Lima Souto no dia 28 de Março. Esse é o 1968 que conhecemos e que até hoje ganha as principais páginas de jornais e publicações em geral.
No mesmo ano, mais precisamente em Julho, um jovem cantor nascido em Recife entraria em estúdio para gravar o arrojado "Canto ao Canto de Edson Wânder". Ele mesmo. Edson Wander, no auge de seus vinte e dois anos, realizava o sonho de gravar um Long-Play na Copacabana Discos, onde foi contratado em 1966 com a ajuda de Wanderley Cardoso, maior estrela da gravadora na época. Na ficha técnica, entre outros, estavam o maestro Pachequinho, o ainda jovem e desconhecido técnico de som Mazola - Com um só "Z" - e Ismael Corrêa, diretor da gravadora. A foto ficou com a Foto Mafra, responsável por ensaios fotográficos de inúmeras gravadoras e publicações, e o poético texto com Ricardo Galeno.
Já na gravadora para acertar os últimos detalhes, Edson encontraria um moço negro que estava divulgando o também cantor Nilton César. Seu nome: Evaldo Braga. Rapidamente Evaldo se aproxima e pede para mostrar uma composição, juntamente com o parceiro Reginaldo José Olice. Alguém dá um violão e Evaldo toca, por completo, "Areia no Meu Caminho". Sem pensar duas vezes, Edson - empolgado com a canção - resolve incluir a mesma em seu disco, excluindo uma que permance inédita até os dias de hoje. Por ironia do destino, tornou-se seu maior sucesso, num disco que também continha composições do famoso radialista e compositor José Messias, Sérgio Reis e Wanderley Cardoso, entre outros. É de José Messias "Prelúdio de Fazer Você Voltar", com ar de Orlando Silva. Já Wanderley Cardoso aparece com "Meu Ar de Tristeza", uma mistura do próprio com Roberto Carlos, regada ao famoso órgão Hammond B-3. Figuram também sucessos como "Tu", "Jovem Triste" e "Desgraça Pouca Não Dá Pra Chorar", esta última com jeito de Paulo Sérgio, então seu cunhado - na época estava tendo um belo romance com Marlene Cavalcanti, irmã de Edson, também cantora.
Depois de alguns dias de ensaio e outros de gravação, a fita master estava pronta. "Foram mais ou menos 100 mil cópias", diz Edson. O lançamento ocorreria em Agosto, onde Edson iniciou mais uma maratona de rádio e TV, apresentando seus sucessos e divulgando o disco que acabara de sair da fábrica.
Relançado na década de 80 pela Beverly, o disco é objeto de desejo de muitos colecionadores. Em alguns pontos do Rio de Janeiro, chega a custar 200 reais - a versão do selo amarelo, promocional. A arrojada equalização da prensagem em 180g. , além de uma arte gráfica mais presente faz da segunda prensagem do disco, realizada no final do ano, ser mais rara que a primeira, de selo azul. Esta última varia de 100 a 150 reais nos mesmos pontos de venda do Rio de Janeiro.
Edson voltaria a gravar em 1969, com a psicodelíssima "Estou Ficando Louco", grava em São Paulo com Os Carbonos. Lançaria outro álbum em 1976, na Odeon, uma compliação de canções gravadas desde 1972. Trazia canções de Osny Silva gravadas em ritmo Beat, Boleros e até um Country-Rock de sua autoria, gravado em 1974.
Há exatos quarenta anos, Edson deixava mais que seu nome marcado na música brasileira. Deixava um álbum histórico. Deixa, mais do que nunca, a sua marca. Pra sempre.


* Gabriel Passos é colecionador, radialista e escreve neste blog