quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Flor de Cactus - Os primórdios de um conhecido artista




Flor de Cactus - Os primórdios de um conhecido artista

Por: Henrique "Gato Vinil" Alvarez *



A maioria dos artigos ou discografias de Lenine mencionam como sendo seu primeiro disco, o LP "Baque Solto" que ele gravou em 1983 junto com seu parceiro Lula Queiroga.

Na verdade, a primeira gravação do pernambucano aconteceu em 1979 quando ele fazia parte do grupo "Flor de Cáctus", que também não é o mesmo Flor de Cáctus do Rio Grande do Norte, que gravou 3 LPs e acompanhou Zé Ramalho em alguns shows.

O "Flor de Cáctus" de Recife era formado por André Luiz na viola, Cacá no baixo elétrico, Mário Lobo no piano, Plínio na flauta, Sérgio Campello na bateria e percussão, Zé Rocha no violão e Lenine no violão e voz. Contava também com Paulo Rafael, ex-Ave Sangria, como participante especial, na guitarra. Desses integrantes, Zé Rocha, parceiro de Lenine, continua com sua carreira solo, já tendo gravado inclusive CDs.

O Flor de Cáctus gravou apenas esse compacto pelo selo Matita Discos, de Recife, que era de Zé da Flauta, que produziu o disco em parceria com o próprio grupo e Paulinho da Macedônia. O compacto traz no lado A - "Festejo" de Zé Rocha e André Lobo e no lado B - "Giração" de Lenine. Um disco raro e importante para quem coleciona a obra de Lenine.


Em 1984, depois do LP "Baque Solto", Lenine gravaria um segundo compacto, também difícil de ser encontrado hoje em dia. Trata-se de "Baque da Era" (Lenine/Fubá /Zé Rocha) e trazendo no lado B "Véu da noite" (Lenine/Pedro Osmar/Zé Rocha). O compacto foi gravado pela Philips.








Em 1985, mais um enigmático e obscuro lançamento do pernambucano, desta vez pela CBS, com produção de Mariozinho Rocha. Trata-se do compacto do grupo "Xarada" que tinha a seguinte formação: Lenine na voz e guitarra, Caxa na guitarra e vocal, Fábio Girão no baixo e vocal, Duda na bateria e vocal e Sartori nos teclados e vocal. O lado A do compacto traz "Mal necessário" (Lula Queiroga/Lenine) e no lado B "O Feitiço e o feiticeiro" (Lenine/Caxa).

O destino do grupo Xarada foi o mesmo do Flor de Cáctus, ou seja, não chegou a lugar algum. Hoje, com o sucesso internacional e o reconhecimento de seu talento por todos, esses três compactos de Lenine são bastante procurados por seus admiradores mas como poucas cópias devem ter chegado às lojas, a maioria foi para as rádios, como promocionais, os discos são verdadeiras raridades da carreira de Lenine.

Ass: Gato Vinil


*Henrique é colecionador há mais de 30 anos, comerciante, estudioso do mundo do vinil e escreve neste blog.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Os 40 anos do Canto ao Canto


Os 40 anos do Canto ao Canto
Por: Gabriel Passos *



Há exatamente 40 anos, 1968 estava se iniciando. Isso porque o brasileiro só começa o ano depois do Carnaval. Em 1968, nem tudo era um mar de rosas: No final daquele ano, o AI-5 seria instituído no país e muitas bocas caladas à força. Passeatas, o início da Tropicália, o fim do televisivo "Jovem Guarda" e a morte abrupta do estudante Edson Luís de Lima Souto no dia 28 de Março. Esse é o 1968 que conhecemos e que até hoje ganha as principais páginas de jornais e publicações em geral.
No mesmo ano, mais precisamente em Julho, um jovem cantor nascido em Recife entraria em estúdio para gravar o arrojado "Canto ao Canto de Edson Wânder". Ele mesmo. Edson Wander, no auge de seus vinte e dois anos, realizava o sonho de gravar um Long-Play na Copacabana Discos, onde foi contratado em 1966 com a ajuda de Wanderley Cardoso, maior estrela da gravadora na época. Na ficha técnica, entre outros, estavam o maestro Pachequinho, o ainda jovem e desconhecido técnico de som Mazola - Com um só "Z" - e Ismael Corrêa, diretor da gravadora. A foto ficou com a Foto Mafra, responsável por ensaios fotográficos de inúmeras gravadoras e publicações, e o poético texto com Ricardo Galeno.
Já na gravadora para acertar os últimos detalhes, Edson encontraria um moço negro que estava divulgando o também cantor Nilton César. Seu nome: Evaldo Braga. Rapidamente Evaldo se aproxima e pede para mostrar uma composição, juntamente com o parceiro Reginaldo José Olice. Alguém dá um violão e Evaldo toca, por completo, "Areia no Meu Caminho". Sem pensar duas vezes, Edson - empolgado com a canção - resolve incluir a mesma em seu disco, excluindo uma que permance inédita até os dias de hoje. Por ironia do destino, tornou-se seu maior sucesso, num disco que também continha composições do famoso radialista e compositor José Messias, Sérgio Reis e Wanderley Cardoso, entre outros. É de José Messias "Prelúdio de Fazer Você Voltar", com ar de Orlando Silva. Já Wanderley Cardoso aparece com "Meu Ar de Tristeza", uma mistura do próprio com Roberto Carlos, regada ao famoso órgão Hammond B-3. Figuram também sucessos como "Tu", "Jovem Triste" e "Desgraça Pouca Não Dá Pra Chorar", esta última com jeito de Paulo Sérgio, então seu cunhado - na época estava tendo um belo romance com Marlene Cavalcanti, irmã de Edson, também cantora.
Depois de alguns dias de ensaio e outros de gravação, a fita master estava pronta. "Foram mais ou menos 100 mil cópias", diz Edson. O lançamento ocorreria em Agosto, onde Edson iniciou mais uma maratona de rádio e TV, apresentando seus sucessos e divulgando o disco que acabara de sair da fábrica.
Relançado na década de 80 pela Beverly, o disco é objeto de desejo de muitos colecionadores. Em alguns pontos do Rio de Janeiro, chega a custar 200 reais - a versão do selo amarelo, promocional. A arrojada equalização da prensagem em 180g. , além de uma arte gráfica mais presente faz da segunda prensagem do disco, realizada no final do ano, ser mais rara que a primeira, de selo azul. Esta última varia de 100 a 150 reais nos mesmos pontos de venda do Rio de Janeiro.
Edson voltaria a gravar em 1969, com a psicodelíssima "Estou Ficando Louco", grava em São Paulo com Os Carbonos. Lançaria outro álbum em 1976, na Odeon, uma compliação de canções gravadas desde 1972. Trazia canções de Osny Silva gravadas em ritmo Beat, Boleros e até um Country-Rock de sua autoria, gravado em 1974.
Há exatos quarenta anos, Edson deixava mais que seu nome marcado na música brasileira. Deixava um álbum histórico. Deixa, mais do que nunca, a sua marca. Pra sempre.


* Gabriel Passos é colecionador, radialista e escreve neste blog

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Demétrius e O Estranho de Cabelos Longos



Demétrius e O Estranho de Cabelos Longos

Por: Gabriel Passos*



Há muito tempo, mais precisamente em 1960, um jovem cantor chamado Demétrius gravou seu primeiro disco, ainda em 78 R.P.M, pela precursora Young. O tempo foi passando e Demétrius, com todo seu talento, foi desenvolvendo discos de sucesso e emplacando nas paradas nacionais. Mas o sucesso veio mesmo em Março de 1964, com "O Ritmo da Chuva", canção que projetaria Demétrius para as paradas de sucesso, podendo ser ouvida até hoje nas rádios mais populares do nosso país. Porém, vieram as novidades musicais e, junto com elas, o ano de 1968. A Tropicália, um movimento onde Caetano Veloso e Gilberto Gil imperavam, surgia. O programa de TV Jovem Guarda chega ao fim, para muitos acabando com o movimento homônimo. Chega 1969. Demétrius não lança nada neste ano. O que estaria fazendo?
Ao contrário do que muitos pensam, Demétrius não parou em 1969. Gravou um compacto promocional que não chegou a ser distribuído em grande escala - teve sua prensagem cancelada depois de algumas cópias, que "vazaram" da gravadora - pela gravadora Continental. Neste compacto o cantor apresenta uma versão sua para "El Extraño Del Pelo Largo", denominada "O Estranho de Cabelos Longos", e a também sua "Hoje a Noite". A primeira, em sua versão original do argentino Lito Nebbia, serviu de inspiração para o filme hômonimo, também argentino, lançado em 1970. Um clássico da psicodelia mundial, diga-se de passagem. Foi gravada pelo grupo equatoriano Los Corvets e pelo argentino La Joven Guardia, logrando êxito em seus países. Já com Demétrius, a música ganha um órgão Hammond e um solo de guitarra no melhor estilo Jimi Hendrix, misturado com uma letra totalmente psicodélica. A segunda música, presente no lado B, é um Rock-Balada de primeira, numa mistura de, digamos, Bread e Antônio Marcos. Não se sabe o porquê da prensagem ter sido cancelada, tampouco o porquê do cantor não ter lançado as músicas oficialmente.
Demétrius voltaria em 1970, com a canção "Meu Velho", no álbum "Clube dos Artistas", da gravadora RGE. Seu compacto promocional, hoje em dia, é disputado por colecionadores da América do Sul, principalmente do nosso país e da Argentina.

* Gabriel Passos é colecionador, radialista e escreve neste blog